13 de mai. de 2009

Migrando

Sem mais e sem menos


-Aqui ó, Adão, está bem que você fez um monte de viagens transportando a mudança, quer dizer, as ferramentas, sementes e roupas. Eu estou aqui carregando estes dois meninos, o Abel enganchado nos braços e o Caim pendurado nos meus ombros por este carregador de arminho, que luxo hein? Ele é macio, peludinho, confortável, uma verdadeira grife, mas peraí, é muito peso para mim estes dois moleques. Me faz um favor, pega o Caim que é mais pesado! –O quê, esqueceu que vamos atravessando o mato por trilhas? Elas não foram feitas com facão que isto não existe. Amassando na pancada, dando porretadas e quebrando galhos, derrubando arbustos é que foi feito este caminho que você está conhecendo. Isto aqui não é o Paraíso, volto a lembrar, aquilo era cinematográfico, coisa projetada por engenheiros, paisagistas e jardineiros, ou os tais de anjos, ou o cara que criou a gente. –Ainda bem que este tal cara não é aquele a quem Obama se referiu, o que diz que antes dele nunca naquele país nada foi melhor do que sob as rédeas dele. Ele deve pensar que somos jegues ou burros! –Não sei nada de obama, que palavra é esta? –Pelo que sei, vai haver um tal de Maomé daqui há muitas luas que terá um guerreiro chefe que se chamará Osama que quer dizer leão na língua da tribo Al rabiah que vai ser conhecida como árabe. Mais tarde haverá uma variação que se chamará swahili e nela o leão se chamará "obama". Barack, é o nome do cavalo com asas que vai levar Maomé a uma jornada noturna no Paraiso, é, aquele mesmo de onde saímos, tenho minhas dúvidas que continuará a existir. Hussein vai ser um neto de Maomé. Veja que o homem foi homenageado para burro! –Minha nossa, você me espanta com tanta erudição. –Seu bobo, não quero enganar você, é só consultar a Wikipédia. –Wiki o quê? É a tal da sua intuição? –Deixa para lá. Me alivia deste peso aqui. –Não posso, tenho que ficar com as mãos livres e armado de porrete e deste arco e flechas para nos defender de ataques de tigres e leões. –Deixa de ser besta homem, você não vê que nada vai acontecer, que estas armas de nada vão adiantar se formos atacados por eles. De mais a mais, presta atenção; atacados e comidos, acaba-se a nossa humanidade vai para o brejo com caçamba e tudo. Adeus civilização! –Se você acha, e eu estou me acostumando com suas adivinhações, Eva, tudo bem, deixa-me pegar o Caim, dá aqui. Pesadinho hein? –Ô, cara! No fundo, no fundo acho que você queria dar uma de malandro, jogando esta conversa de bichos devoradores para cima de mim. Mas eu desculpo você, afinal nunca pegou Caim no colo, nunca fez carinho nele e pelo que vejo você está entrando pelo mesmo caminho com Abel. –Eva, o que é carinho? –Bem, você já prestou atenção nas macacas quando estão com os filhotes no colo ou quando estão encostados neles ou até macacas com macacas? Elas alisam os pelos deles ou delas, afastam-nos com as duas mãos e depois botam os dedos na boca, não sei comem alguma coisa, os pelos talvez? Os filhotes esticam braços e pernas, se espreguiçam, rolam no chão. As fêmeas se dão muito bem, encostam-se umas na outras, se roçam, se lambem. Sabe, já vi até macacos encostando os beiços na macacas, mas nunca vi macaco com macaco. –Nem vai ver Eva, eles vivem brigando uns com os outros, é cada corrida que os maiores dão nos menores, fora as mordidas quando um mais fraco é apanhado. E tudo isto para machos e fêmeas se conhecerem. É, e a gente se conheceu duas vezes e pronto! Será que vai ser preciso mais? Não tenho a mínima idéia da necessidade destes conhecimentos. E por falar nisso, a gente já falou na nossa humanidade de quatro pessoas; mas será mesmo verdade que não foram criados outros adões e evas como a gente? Imagina se tem alguns aí pela mata e eles resolverem te conhecer ou me conhecer? Não ia ser nada bom. E você? De repente, sei lá, podemos dar de cara com gente por aí. Não quero saber de intimidades deles com você de maneira alguma, sei que meu bem jamais aceitaria tal calamidade, não é verdade o que estou pensando? –Hummm! –Imagina eu ter que sair dando pancadas e mordidas nos outros e levar também. Para qualquer má intenção, qualquer surpresa besta, essa queixada de jumento acaba com qualquer um que levá-la na cabeça. –Hummm! –Que foi Eva, está misteriosa? –Acaba com esta aflição homem! Prestenção! Entenda muito bem o que vou dizer. Tem feromônio flutuando no ar de tudo quanto é lado que eu me virar, mas é só de animais. Tá uma festa! A gente não está vendo os bichos, mas não sinto cheiro de feromônio nem de macho homem nem de fêmea mulher, será que nós temos? É zero! Absolutamente zero! Minhas narinas não captam nada. Não há uma só partícula, qualquer micrograma por milímetro cúbico em toda a atmosfera. Então você pode se garantir! –O quê?!